Sahib Bibi Aur Ghulam (1962)

Este é um filme muito sério do senhor Abrar Alvi. Aliás, o único que ele dirigiu. Não sei como vai ser falar dele neste momento Akshay Kumar da minha vida, mas tentemos.

A história se passa no século XIX e é contada pela perspectiva de Bhoothnath (Guru Dutt), que sai de sua cidadezinha e vai para Calcutá em busca de trabalho. Chegando à cidade, ele vai morar com seu cunhado, que reside e trabalha na mansão da família Chaudhary. Seu cunhado lhe consegue um trabalho na fábrica de sindoors de Suvinoy Babu (Nasir Hussain). Suvinoy Babu é pai de Jabba (Waheeda Rehman), uma moça inteligente que sempre arruma um modo de deixar Bhoothnath desconcertado. Juntamente com ela, a outra mulher que faz parte da vida de Bhoothnath é Chhoti Bahu (Meena Kumari), a devotada esposa do boêmio Chhote Sarkar (Rehman). A infeliz esposa encontra em Bhoothnath um confidente para seus momentos infelizes.

Leio muito por aí que Chhoti Bahu foi o melhor papel da vida de Meena Kumari, e até o momento ainda não tive motivos para discordar da afirmação. Não expliquei todo o drama da personagem no resumo, mas espero conseguir agora. Ela veio de uma família pequena do interior, tendo sido criada com o ensinamento de que a esposa deve tratar seu marido como um Deus. Seria muito fácil pensar "ah, machismo" e desanimar da personagem, mas tentei me imaginar tendo uma criação orientada para um objetivo tão diferente do meu. A partir daí, foi só aproveitar a atuação da Meena e sofrer junto com a Chhoti Bahu. O porquê do sofrimento? Bem, o marido dela nunca estava em casa. Segundo alguns diálogos do filme, a esposa deveria ficar muito alegre por seu marido agir como um perfeito membro da aristocracia, gastando com suas cortesãs e passando toda a noite fora de casa, provando sua virilidade. Agindo deste modo, fica claro que não havia como Chhoti Bahu ser a esposa que desejava, e esta situação a destruía lentamente. Ela implora a ele que a deixe servi-lo, mas a esposa e nada são a mesma coisa para Chhote Sarkar. Um dia, ele diz que ela deve beber vinho para ser como as cortesãs que ele visita, e esta situação a desespera. Pelo que entendi, uma boa mulher hindu não deve tomar bebida alcóolica, mas ela o faz depois de uma grande luta interna. Chhoti Bahu se torna alcóolatra, e fico muito triste toda vez que vejo aquelas cenas porque a própria Meena Kumari era alcóolatra e, se não me engano, morreu devido a isto. Às vezes me pego lembrando das cenas do filme e tentando imaginar se havia um pouco do desespero da própria Meena nos gritos e lágrimas de Chhoti Bahu. Talvez seja por isto que me sinto tão incomodada quando leio algumas pessoas reduzindo a história do filme à palavra "machismo". O papel de Chhoti Bahu fala sobre educação, submissão, dos extremos em que repentinamente podemos cair, dor, honra, entrega. Fico me perguntando se realmente há pessoas assim por aí, e como será que vivem. Não gostaria de ser como ela e muito menos que alguma filha minha fosse, mas a personagem é muito forte e não deve ser desmerecida. Isso sem contar a coragem da atriz em fazer uma personagem assim em plena Índia nos anos 60!


Meena é sempre lembrada pela personagem, mas às vezes me parece que as pessoas não lembram que a Waheeda estava no filme. Ela estava LINDA, brincalhona, dramática, tudo o que você pedir. Confesso até que na primeira vez em que assisti ao filme, queria que as cenas de todos os outros acabassem de uma vez, só para que ela voltasse para a tela...ser muito fã de alguém muitas vezes nos cega para o resto do mundo. A Jabba até hoje é uma das personagens de que mais gosto no cinema indiano, e ela trazia um clima mais leve ao filme depois das cenas pesadas da Chhoti Bahu. Jabba gostava de Bhoothnath, mas era daquele tipo que implica com as pessoas que gostam, sabem? Como aqueles garotinhos de filmes americanos que batem nas meninas de que estão gostando. Foi a primeira vez que vi o Guru Dutt fazendo papel de bobão, e estava tão adorável! Se a Jabba implicava com ele, este fazia uma expressão de menino contrariado tããão bonitinha! Uma vez ela disse a ele que os dois não tinham laços, tudo o que ela tinha de fazer era se certificar de que ele estava alimentado. Quando mais tarde eles já estavam naquela relação meio flerte não-declarado, ele a lembrou da frase umas duas vezes. Menino bobo. Voltando à Jabba, até hoje foi a personagem em que a Waheeda me pareceu mais bonita...e esta impressão sempre se intensifica devido ao fato de eu gostar da personalidade da Jabba.


A relação entre Bhoothnath e Chhoti Bahu era meio estranha, meio platônica da parte dele. Eles começaram a se falar quando ela pediu a ele que trouxesse sindoor do trabalho dele para que ela usasse, já que a propaganda do Mohini Sindoor afirmava que ele trazia alegria aos apaixonados. Sabemos que não funcionou para ela, pobre Chhoti Bahu. O interessante era que toda vez que o Bhoothnath olhava para ela, havia uma iluminação em torno dela que a fazia parecer...celestial. Como o Bhoothnath parecia um menininho, o olhar dele para ela era todo encantado, o que me lembrava quando eu era pequenininha e gostava de um menino mais velho. Momento recordação. Quando tinha uns 9 anos, gostei por uns meses de um garoto que devia ter uns 14, 15. Parecia que ele era a pessoa mais especial e mágica do mundo, a maior pessoa do universo. Talvez meu olhar tenha ficado como o do Bhoothnath naquela época. A diferença é que eu achava que estava perdidamente apaixonada (tããão fofa!), enquanto que até hoje não entendo o que Bhoothnath sentia pela Chhoti Bahu. Aceito que ele só a via como aquela pessoa inalcançável.


O filme fala também da decadência dos Zamindar, que pelo que entendi, eram os tais senhores da terra, uma coisa bem feudal (lembrei da minha 6ª série). Você vê pelo olhar dos donos da mansão o quanto se sentem superiores, e o bando de bajuladores que os rodeavam só reforça a impressão. Tiravam tudo de quem já não tinha nada, mas não hesitavam em fazer um casamento luxuoso para os gatos da família. É uma pena que toda esta questão não tenha chamado a minha atenção, de tanto que eu estava interessada nas histórias dos personagens. Achei que o fato de eu estudar Psicologia fosse o motivo de eu ser tão apegada aos personagens e suas ações, mas nem ligo muito pra Psicologia...acho que gente fazendo coisas diferentes das minhas é o que me prende. Não é incrível como existem milhões de diferentes pessoas no mundo, tomando as mais diversas atitudes e tendo as mais diversas personalidades? Acho sensacional!

FOCO, CAROLYNE!

A trilha do filme é de Hemanta Mukherjee (ou Hemant Kumar), e as letras das músicas são muito marcantes, autoria de Shakeel Badayuni. Uma das canções mais tristes é Meri Baat Rahi Mere Man Mein, que é cantada por Asha Bhosle e interpretada pela Waheeda no filme. A letra diz algo como "Minhas palavras não ditas jazem seladas em meu coração", e os olhos cheios de lágrimas da Jabba já nos informam tudo o que ela não conseguiu dizer ao Bhoothnath. "Ainda que a chuva tenha caído, meu coração permaceu seco".Ah, que lindo...e deprimente.

Gosto muito de Bhanwara Bada Naadaan, outra da Asha Bhosle. Mas esta, só assistindo para ver como é graciosa. Ai ai, essas abelhas ingênuas!

Na Jao Saiyan Chudaake Baiyan foi o clipe mais deprimente que já vi da Meena Kumari até hoje. Não aguento vê-la se arrastando daquele modo para um homem que pouco se importa se ela está viva ou morta. Não gosto muito de ver o clipe, porque já fico triste com 2 segundos. Acho que nunca ouvi uma música da Geeta Dutt que não me fizesse ter vontade de me jogar na cama e ficar chorando eternamente.

SBAG é baseado no livro Shaheb Bibi Golam, de Bimal Mitra. É válido lembrar que meu aniversário é em novembro.

Apesar de o efeito do filme sobre mim ter sido bem menor quando o revi, acho que ainda o manterei entre meus favoritos por um bom tempo, principalmente devido às duas atrizes que fizeram dele uma experiência tão intensa. Hoje é a primeira vez em que termino um post com um vídeo, mesmo que o post já esteja longo. Saqiyaa Aaj Mujhe Neend Nahin (pode chamar de Saqiyaaaaaaaaaaa) está entre meus clipes favoritos de Bollywood, e foi ele que me fez ficar fã da Minoo Mumtaz. Queria que sempre fizessem vídeos de cortesãs como este...faz valer a pena por um filme inteiro. Até a próxima!


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