Hamari Adhuri Kahani (2015)


Hamari Adhuri Kahani é a penosa história de amor de Aarav Ruparel (Emraan Hashmi) e Vasudha (Vidya Balan). O Sr. Ruparel é o rico dono de uma cadeia de hotéis que se apaixona por Vasudha, florista de um dos hotéis que pretende comprar. O maior obstáculo para o romance é o fato de ela ser casada com Hari (Rajkummar Rao), que é acusado de ser terrorista e sumiu sem dar notícias desde o nascimento do único filho do casal. Vasudha então se vê diante da difícil escolha entre seus valores tradicionais e sua felicidade.



Lá estava eu, com a bagagem de todas as pessoas que amaram esse filme. Pronta para chorar, me descabelar e passar a noite sendo infeliz ao lembrar do casal principal. O filme tem uma carga dramática, uma visão grandiosa sobre o amor e um roteiro que me lembram muito os filmes dos anos 60, de que tanto gosto. Só que não chegou nem perto de me emocionar. O que deu errado? A primeira parte do quebra-cabeças para entender as razões me foi dada pela minha amiga Lalita: o amor era intenso demais, mas não nos foram dados muitos elementos para acreditar em sua intensidade. Aarav observa e se encanta pela sensibilidade de Vasudha ao falar das flores e da vida, porém o interesse dela só surge a partir do momento em que percebe o dele. O encontro romântico dos dois dura pouco. Não há muita conversa ou interação romântica direta entre eles; a maior parte do amor se passa quando Aarav observa Vasudha de longe. É importante que histórias baseadas em amores fortes criem essa conexão entre os personagens para que o espectador acredite nele e torça pelo casal no momento da separação. Neste caso, toda a ligação entre eles ficou a cargo apenas da química e da cumplicidade entre Emraan e Vidya. E o sucesso dos atores neste ponto foi inquestionável, mas não suficiente.


Costuma-se usar o termo larger than life (“maior que a vida”) para falar de filmes que tragam a noção de extremo usada em Hamari Adhuri Kahani. É a premissa que carrega filmes românticos em que as vidas dos personagens sejam totalmente dedicadas a esse amor, como aconteceu em Veer-Zaara, por exemplo. A confusa mistura de drama terrorista, tradições familiares e pitadas de emancipação feminina enfraqueceu a dimensão maior que a vida que se pretendeu dar ao romance principal. O amor acabou ficando numa escala menor do que a sugerida pelo roteiro – o que adicionou um tom cômico que certamente não era a intenção dos idealizadores. Não foi criado o mundo afastado da realidade que é necessário para despertar a emoção de um roteiro tão romântico, antiquado e dramático. O efeito poético visado passou longe. Foi então que me peguei rindo. Muito. E esta provavelmente não era a reação esperada. 


Vou cumprimentar todo o mundo assim. Achei tendência.

Aarav Ruparel teve o grande mérito de revelar a capacidade de o Emraan fazer um herói romântico convincente. Se alguém conseguiu dar dignidade e verdade à pieguice de um roteiro, foi este homem. O olhar é muito importante em histórias na qual se passa muito tempo observando a amada de longe, e Emraan conseguiu transmitir ternura por Vidya mesmo sem um diálogo sobre o qual se apoiar. Já Vidya teve um trabalho muito mais difícil: dar vivacidade à uma personagem sofrida e chorosa, vítima da passividade a que tantos anos de tradição a acostumaram. Outra semelhança com filmes dos anos 60 – lembrei especialmente de Sangam – é ela passar basicamente todo o tempo de filme na mesma posição de subjugação, para depois ter um breve e insatisfatório momento de libertação. A todo o momento a sua autodescoberta enquanto um ser humano de valor se confunde com sua veneração pela figura de Aarav, a quem enxerga como a própria figura divina.




Apesar de estar no lugar errado, Rajkummar Rao está fantástico ao trazer a violência e a crueldade de um marido que enxerga a esposa como propriedade pessoal. É particularmente bom em expressar incredulidade ao ver diante de si aquela mulher indo contra tudo o que acredita ser correto, ousando amar outro homem e rejeitar sua autoridade. Depois de vê-lo também num ótimo momento como o namorado machista em Queen, até temo que essa seja sua especialidade. A passagem de tempo mostrada já no início do filme retira um pouco do efeito causado por sua boa atuação, pois a caracterização de todos os personagens envelhecidos do filme é péssima. Quem olha até pensa que jogaram talco nos cabelos dos atores para que parecessem velhos. Ainda assim, as cenas do jovem Hari não deixaram a desejar - mesmo destoando completamente do estilo romântico e abnegado da maioria do filme. O personagem certo no filme errado.

Hari, o menino lobo
As expectativas podem arruinar sua relação com uma obra. Gostaria muito de acreditar que minha reação extremamente negativa a este superdrama venha do peso delas, mas não é verdade. Quando todos os elementos de um filme não estão em sintonia, não há o que o salve para o espectador. Até mesmo as ótimas músicas pareciam perdidas em uma história que não sabia para qual lado se dirigir. Hamari Adhuri Kahani tentou modernizar um romance à moda antiga contando várias histórias diferentes: a do milionário infeliz, a da mãe e esposa abnegada, a do terrorista ausente, a da tradição que esmaga a vida de uma mulher. É uma pena que todas elas não tenham conseguido se unir harmonicamente para apresentar a saga do amor de Aarav e Vasudha. Vidya merecia mais.

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